terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Literatura e Autoritarismo (O início de uma posição da literatura diante do leitor [via estética da recepção])

Não comentarei nada sobre Hans Robert Jauss e sua Estética da recepção. O que será relatado é apenas uma possível explicação, talvez amalgamada ao epicentro do destino, para a formação do meu interesse pelos estudos literários.
Iniciava em março de 2003 o curso de Letras, na Universidade Federal do Espírito Santo. Vinha de umas férias de aproximadamente uns 3 meses, e isso aumentava ainda mais as minhas expectativas sobre o curso em questão. Lembro-me como fosse ontem, o primeiro dia na Ufes, as apresentações dos coordenadores de curso, do diretor do Centro de Ciências Humanas e Naturais, mais conhecido como CCHN. Era aquela empolgação. Alegria e ansiedade...
Durante a segunda semana de aula tivemos, como é praxe na instituição, a Semana de Pesquisa em Letras. Um evento que busca apresentar aos calouros as pesquisas que vinham sendo desenvolvidas no departamento de Letras.
Eu estava ansioso, pois nós, quando somos calouros -isso em qualquer curso - ficamos curiosos, e pensamos o que se pesquisa na nossa área.
O primeiro dia da Semana de Letras foi uma apresentação das diretrizes do curso, aquelas coisas "chatinhas", embora importantes para estudantes e professores. Assisti a algumas palestras de Lingüística, nada de literatura - os temas não me agradaram -. Tive uma impressão nada boa, "esta faltando um certo engajamento no curso", pensava isso porque via nos outros cursos do CCHN - História, Geografia, Ciências Sociais, eis aí alguns - um engajamento social altamente encorajador. Quiça, esta minha impressão fosse pelas várias leituras que fiz antes do vestibular na matéria de História, os debates sobre questões sociais e políticas que tinhamos no cursinho. Algumas pessoas diziam na época que eu tinha que fazer História, outras pensavam que eu tinha passado para História, e não para Letras. Enfim , tolerei tudo isso.
Quando numa manhã dessa mesma Semana, teve uma palestra que me chamou a atenção, era alguma coisa sobre Literatura e Autoritarismo. O palestrante era um sujeito sério, que dificilmente apresentava um sorriso nos lábios, que às vezes estava carrancudo, falava tranquilamente com um sotaque meio gauchesco, seu nome: Jaime Guinzburg. Enquanto esse professor apresentava o Literatura e Autoritarismo, comecei a perceber uma certa importância da LITERATURA para nós seres humanos.
Quando O docente acabou de apresentar o conteúdo da sua pesquisa, as pessoas do IC II - um dos auditórios do CCHN - estavam totalmente desestimuladas, faltava o engajamento - percebi -, a ponto do palestrante perguntar: "Eu não quero ser idiossincrático, mas ningém não tem nenhuma pergunta, eu não acredito nisso, depois de ouvir tudo o que eu disse, ninguém tem nada a comentar?", Essa frase do professor e mais tudo o que ele expôs à platéia, sinceramente, me fizeram pensar e entender o motivo, e a importância da literatura, pensei celeremente: "até que fim vi um engajamento nesse curso.". Guinzburg ainda disse sobre a literatura, o que realmente me fez acreditar nela: "Se todas as pessoas lessem literatura, poderiam resolver seus problemas dialeticamente, uma vez que por intermédio dela [literatura] podemos ter reflexão e saber conviver com os problemas e resolvê-los dialeticamente [...] A boa literatura é aquela que provoca o choque, que traz a reflexão".
Era tudo o que meus ouvidos queriam ouvir. Achei um fundamento para estudar literatura, e por intermédio dela, tentar amenizar os problemas relacionados à leitura, consistentes na nossa sociedade.
Passadas duas semanas, fiz um mini-curso sobre Literatura e Autoritarismo, e confesso: Foi o melhor mini-curso que fiz na universidade. Logo em seguida, fiz um curso de extensão sobre Literatura e Autoritarismo.
Agradeço muito ao destino por estar alí, naquela Semana de Letras, no auditório do IC III, do CCHN, na Universidade Federal do Espírito Santo - Conhecida como UFES -.

2 comentários:

  1. Rogerio, meu caro amigo, sua narrativa a mercê de suas espectativas e esperiências com o curso de Letras me fez lembrar um livro que havia lido a muito tempo, de Stanislaw Ponte Preta, nem me recordo o nome, mas muito empougante e me fez lembrar de mim no meu primeiro dia de aula na UFES, espectativas em conhecer os doutores uns temidos, odiados e outros ovacionados. Em suma aquela anciedade e espectativa,,, fantástico são as esperiências que a vida nos proporciona! aquele forte abraço!

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  2. Sem dúvida, Douglas.
    A ansiedade é um sentimento que todo calouro é vítima. Nós sempre esperamos o melhor daquilo que escolhemos para atuar na maior parte do nosso tempo, da nossa vida.


    Um abraço, camarada.

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