domingo, 7 de fevereiro de 2010

PT 30 ANOS: ESQUERDA OU DIREITA? UTOPIA ÀS AVESSAS.

PT, o suplício de uma saudade - FRANCISCO DE OLIVEIRA,76, é professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.


AOS 30 ANOS de sua fundação, o PT realiza todas as previsões da ciência social sobre a estrutura e o funcionamento das grandes organizações. No caso dos partidos, foi Robert Michels quem traçou essa rota.

Burocratizado, previsível, com abissal espaço entre suas elites e a massa, mesmo a hoje fracamente militante. Prestou uma excelente contribuição à democratização nacional, e continuará sendo um dos dois principais partidos políticos no Brasil. Mas não ampliou a democratização nem a republicanização do Estado.



De partido ideológico, transitou rapidamente para "partido-ônibus" e deste para "partido paraestatal". O partido paraestatal se define como uma organização ambígua, que realiza tarefas que o Estado lhe delega.

No caso do PT, o Estado lhe delega as funções de legitimação na massa popular, e o Bolsa Família é seu maior instrumento. A mídia e a oposição, em geral, acusam o PT de aparelhamento do Estado. O fenômeno real é o oposto: é o Estado quem aparelha os partidos, embora esse aparelhamento venha coberto de deliciosos chantillys de bons salários, influência nas licitações e descaradamente na corrupção desenfreada.

Por isso, o PT já não é um partido da transformação. Na periferia subdesenvolvida, um partido patrimonialista, na versão machadiana/schwartziana da cultura do favor.



O pós-Lula não conhecerá grandes mudanças no rol dos partidos. O PT é o que mais sofrerá com uma magra dieta não governamental, se sua até agora pretensa candidata não se eleger: tensões internas ou a luta pelo espólio pós-Lula podem aproximá-lo do peronismo sem Perón. Se Dilma se eleger, a luta interna pelo controle de um governo sem personalidade e força partidária própria será também muito feroz.

A luta será para saber quem ocupa os cargos-chave, já que o próprio Lula tem a vocação de eminência parda, mas dirigirá Dilma de muito perto. Se os deuses favorecerem o atual governador de São Paulo, então será a vez de o tucanato voltar a engordar, e tratar de desfazer os trunfos lulistas.

Mas a política real passará longe dos partidos, como já acontece, e o Banco Central e as outras instituições serão os verdadeiros eixos da política.

Por último, convém frisar que o PT não tem nenhuma contribuição para a ampliação tanto da participação popular nas decisões mais importantes, como não melhorou a musculatura institucional do Estado.

Desde Vargas, o último grande reformador do Estado, ele segue o mesmo. FHC tentou introduzir um semiliberalismo via agências reguladoras, mas não foi muito longe; Lula, nem tentar tentou. E La Nave Va. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0702201014.htm>. Acesso em 07/02/2010


PT, entre o passado e o futuro - MARCO AURÉLIO GARCIA, 68, é professor licenciado da Unicamp, Assessor Especial de Política Externa do presidente da República e vice-presidente do Partido dos Trabalhadores


ANIVERSÁRIOS sempre são ocasião para celebração. Sobretudo quando quem celebra é um partido político que há sete anos governa o Brasil e é responsável pela grande transformação econômica, social e política que mudou a cara do país e projetou-o no cenário internacional.

Mas celebração não deve impedir reflexão. O PT, no governo, começou a desatar o grande nó da sociedade brasileira -o da desigualdade social. Frustrou os que prognosticaram que o enfrentamento da questão social por Lula se daria às custas da retomada do crescimento, da estabilidade macroeconômica, da redução da vulnerabilidade externa e da democracia política.

Os êxitos do governo não aplacaram os críticos. Alguns clamaram por uma ruptura mais forte com o status quo, prodigando lições revolucionárias. Outros culparam o povo por deixar-se comprar pelas "migalhas" das políticas sociais implementadas. Persistiram no estigma à experiência brasileira, usando paradigmas teóricos ultrapassados.

Há exatamente 15 anos, aqui nesta mesma Folha, escrevi: "Para que o PT não seja apenas um "caco da história" no "amontoado das ruínas" republicanas a ser resgatado futuramente na história dos vencidos, é necessário que ele apreenda hoje com seus erros, (re)pense o Brasil e assuma não só com vontade, mas também com lucidez, sua a vocação de poder."

O PT assumiu as responsabilidades que correspondem a um partido que quer governar um país com a complexidade do Brasil. Enfrentou, com seus aliados, os temas da desigualdade social, da democracia política e de uma política externa soberana.

A despeito de todas as dificuldades que atravessou, dos erros que cometeu, tem credibilidade para apresentar um Projeto Nacional de Desenvolvimento voltado para o futuro. O partido continua convidando a uma reflexão permanente e, junto com essa nova agenda para o século XXI, apresenta um nome que pode conduzir esse processo nos próximos anos -a ministra Dilma Rousseff. Disponível em :<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0702201015.htm> Acesso em 07/02/2010.


2 comentários:

  1. Boa coletânea de textos, professor!

    Acho bem mais pertinentes as informações do primeiro. O segundo, apesar de apontar coisas certas - como a quase perfeita política externa -, simplifica demais as ações do Governo, e política não deve ser simplificada, e sim, destrinchada mais e mais, a fim de observar melhor tantos o princípio quanto os meios e, sobretudo, os fins.

    Por isso (e também por concordar mais com o que ele diz), prefiro o primeiro texto. É mais realista, mais com os pés no chão, em suma, mais crítico, e é de críticas que se constroem novas ideias, ideias essas que são fundamentais para qualquer país que almeje se consolidar como 'grande' algum dia.

    Por falar em se consolidar como grande, acho bem falho nenhum dos dois autores citar a educação. Na minha singela opinião, ela deveria ser o cerne de qualquer governo no mundo.

    Apesar de estatísticas indicarem que o país cresce mais a cada ano, não sei se realmente podemos interpretar como algo bom um "crescimento" às custas da exploração do trabalhador mal-educado por empresas internacionais. Aí, só vejo motivo para "comemorar" a manutenção de um sistema comprovadamente falho. E enquanto eu viver, não bato palmas para governantes que, bem ou mal, com ou sem bolsa-esmola (ou bolsa-continue-ignorante), não tentem reverter essa situação.

    Não falo aqui de socialismo, como talvez tenha dado a entender (principalmente pela parte das "empresas internacionais"). Falo é de uma política humana, que valorize o que a humanidade tem de melhor, que valorize o que nós, humanos contemporâneos temos melhor que nossos antepassados: conhecimento. Conhecimento baseado em fatos históricos, em teorias novas, em revoluções que fracassaram ou prosperaram.

    Defendo um conceito de governo um pouco diferente. Um governo que valorize o conhecimento. Um governo que incentive as pessoas não só a consumirem esse conhecimento, como também ajudar a aumentá-lo. Defendo, portanto, uma Cienciocracia.

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  2. Excelente análise, Arthur. A questão da educação, sobretudo,num governo que valorize o conhecimento, é um elemento fundamental para que possamos ter um país melhor, e que indubitavelmente, segundo essa lógica teremos um patamar bem mais amplo no que diz respeito à melhoria do setor educacional atrelado ao da saúde. Pois, um povo que possue conhecimento, sabe valores, ética, sobretudo no que diz respeito às mentalidades: ambiental, de convívio pessoal, de respeito ao próximo, isto é, ressaltando às regras de convivência social. Quiça, a Cienciocracia - que não seja destrutiva, em outras palavras, àquela que seja em prol do mercado e da exclusão - possa ser uma saída para o abismo social que temos hoje no país.

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